Combate à pobreza Nova York

Do mundo para a favela

Minha temporada em Nova York está chegando ao fim. Depois de quatro meses na metrópole que, mais que um ícone do capitalismo, é conhecida por lidar com complexidades econômicas e sociais, preparo-me para voltar. Saí do Brasil, mas o Brasil não saiu de mim: da favela para o mundo, do mundo pra favela.

Edu Lyra e sua mãe, dona Gorete

Considero cumprida a missão de ter ajudado a viabilizar o estabelecimento do escritório internacional da Gerando Falcões, liderado por Mauricio Morato. Ainda há uma longa e sinuosa estrada pela frente, sim, mas podemos olhar pelo retrovisor e constatar que parte do caminho já foi percorrido.

Levantamos o equivalente a quase R$ 5 milhões em diversas ações. Só um jantar aqui, organizado pelos empresários e amigos Carlos Brito, Cláudio Ferro e Jorge Paulo Lemann, foi responsável por 60% dessa arrecadação. Num evento similar em Miami — com apoio da XP, Accenture e dezenas de embaixadores —, captamos mais R$ 1,4 milhão. Outros doadores também se fizeram presentes ao longo desse período.

Dinheiro é importante para financiar causas sociais — mas não é tudo. Por isso dediquei parte do tempo no exterior a construir pontes. Novas relações foram criadas. Desenvolvemos comunidades de apoiadores. Tudo isso contribui para a agenda de combate à pobreza. A favela terá muitos frutos a colher nos próximos anos. E continuamos plantando. No próximo ano, iremos a Londres, Lisboa e Boston, cidades onde estamos mapeando parceiros e redes de pessoas que queiram usar sua cidadania para reduzir as desigualdades em nosso país.

Não se faz isso tudo sem inglês. “Você precisa aprender inglês”, cantava Caetano Veloso em “Baby”, para irritação dos puristas da língua portuguesa. Mas o compositor tinha razão, precisamos aprender inglês. Quando aqui cheguei, the book was on the table. Ainda está, e sei que o livro nunca mais sairá da minha mesa. Mas, estudando na Kaplan, com bolsa do STB, evoluí.

Tem sido um curso intensivo, com aplicação instantânea. Um pouco do que aprendi em aula usei na semana passada no Bloomberg New Economy Forum, em Cingapura, onde, ao lado de Lemann e Edu Mufarej, representei o Brasil. O evento contou com a presença de chefes de Estados, ministros, empresários e inventores sociais da Ásia, África e América Latina. Apresentações de gente como a ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton e Bill Gates, que, por meio de sua fundação, doa bilhões de dólares a países do mundo todo para combater as mazelas da pobreza. Consumi conteúdo de ponta, participei de reuniões estratégicas, debati a reinvenção das cidades.

O combate à pobreza precisa ser uma agenda global, coordenada em rede, com envolvimento de toda a sociedade. Estamos numa encruzilhada econômica, social e moral. A pobreza em qualquer lugar é uma ameaça à estabilidade global. Transformar a pobreza em peça de museu precisa ser a prioridade número um, não apenas da Gerando Falcões, mas de todos os cidadãos, em todas as partes do mundo.

Minha mãe me ensinou: “Não importa de onde você vem, mas para onde você vai”. Eu sei para onde eu vou. Vou para onde a causa social me chamar. Vou para o Brasil. Bye-bye, Nova York. Hello, Guarulhos.

Coluna publicada no jornal O Globo em 23/11/2021

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