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Favela solar

As últimas semanas nos deram amostras do potencial destrutivo de eventos climáticos extremos. As cenas de cidades submersas na Bahia, em Minas Gerais e no Norte ficarão coladas em nossas retinas cansadas de testemunhar desastres evitáveis. As chuvas intensas, aliadas à estiagem no Sul, foram manifestações locais de uma crise ambiental e social que desconhece fronteiras.

Esses fenômenos, que tendem a ficar cada vez mais frequentes, nos colocam em uma encruzilhada. Nossa geração é provavelmente a última que tem a oportunidade de fazer algo para alterar de maneira significativa o rumo das mudanças climáticas. Ignorar essa responsabilidade equivale a sentenciar as próximas gerações a um futuro de incerteza.

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Se nada for feito, resta torcer para que funcione a empreitada de colonizar Marte, propagandeada por Elon Musk, o bilionário fundador da SpaceX – se bem que duvido que os brasileiros mais pobres pegariam carona nessa arca da salvação interplanetária. A solução para a crise ambiental passa por Marte, sim, mas não o distante planeta frio – eu me refiro à favela tropical ensolarada.

Gerando Falcões no combate à vulnerabilidade social

Marte, em São José do Rio Preto (SP), ganhará infraestrutura de placas solares que a tornará a primeira favela do Brasil totalmente autossustentável em geração de energia elétrica. É um projeto pioneiro na América Latina e, talvez, no mundo. Com cerca de 240 residências atendidas, a instalação dos equipamentos será custeada pelo Banco BV, que dá assim um exemplo de como transformar a tão falada agenda ESG (ambiental, social e governança) em ação prática.

A autonomia energética sustentável da Marte é parte do projeto da Favela 3D (digital, digna e desenvolvida), implementado pela Gerando Falcões, que busca transformar aquela comunidade em uma verdadeira base de lançamento de tecnologias sociais. Lá, testamos projetos pioneiros para primeira infância, empoderamento feminino, capacitação profissional, reurbanização e muito mais. Na Marte também estamos implementando o projeto Decolagem, que busca soluções personalizadas e mais eficientes de combate à pobreza, com a ajuda de algoritmos e da ciência de dados. Acredito que todos os agentes sociais – governos, iniciativa privada, organizações da sociedade civil – deveriam perder o medo de implementar ideias ou tecnologias pela primeira vez.

Não se trata de vaidade de querer chegar primeiro – nossa luta, afinal, é coletiva. A questão é que a crise atual pede soluções que ainda estão por ser inventadas. Nesse sentido, temos a obrigação de inovar. Nosso compromisso com as próximas gerações é apostar em conceitos disruptivos que permitam não apenas melhorar processos, mas levem a verdadeiros saltos de desenvolvimento humano e social. Essa é a escala em que devemos atacar nossos problemas.

O combate à pobreza e a proteção ao meio ambiente são agendas que precisam andar de mãos dadas. Com a transformação da Marte na primeira comunidade solar e autossustentável do Brasil, damos mais um passo na direção de um futuro melhor para nossos filhos e netos – e sem depender de vaga em foguete de gringo.

Coluna publicada no Jornal O Globo em 18/01

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