Combate à pobreza desigualdade social empreendedorismo Favela

Rebeldes com causa

O trabalho do terceiro setor só existe graças aos empreendedores sociais. Toda forma de engajamento é importante, mas são esses indivíduos, cujo escritório fica dentro da favela, que viabilizam o combate à pobreza nos quatro cantos do país.

Eles têm algo que não pode ser comprado ou simulado: a vivência no território. São líderes que conhecem pelo nome as famílias mais pobres das suas quebradas. Lembram a cor da casa de cada uma delas e sabem dizer se o chão ali é de terra batida ou de piso. Quando alguma criança não consegue vaga na creche, ou quando alguém descobre um problema de saúde, prontamente a notícia chega à sua atenção.

O “olho no olho” com a população local coloca esses empreendedores em uma posição destacada para criar soluções disruptivas de combate à pobreza. Eles são nossos maiores inventores – nossos “rebeldes”, “encrenqueiros”, como gostava de definir Steve Jobs. Dia após dia, eles desenvolvem tecnologias sociais pioneiras. Com coragem, baseados em sua vivência prática, sem medo de errar e aprender, eles testam cotidianamente jeitos inovadores de desarmar a bomba relógio da pobreza e da desigualdade.

Por isso é tão importante valorizar seu trabalho. Uma das metas da Gerando Falcões é identificar essas pessoas extraordinárias e ajudá-las a acelerar suas habilidades. Nosso braço educacional, a Falcons University, existe justamente para que as ONGs da rede possam construir modelos de gestão mais profissionais, em linha com o que as grandes empresas praticam, e desenvolver plenamente as competências sociais e emocionais de suas lideranças.

Mas isso não basta. É preciso convencer a sociedade do verdadeiro tesouro que os empreendedores sociais representam. O Brasil segue preso a um modelo tradicional, ultrapassado, de dinheiro pelo dinheiro, a qualquer custo. Medidos por critérios estritamente financeiros, esses líderes comunitários, de fato, não têm ainda muita expressão. Trato aqui de pessoas que muitas vezes precisam decidir se pagam o aluguel ou a conta de luz atrasada de suas ONGs. Seus “empreendimentos” não estão listados na Bolsa de Valores.

No entanto, se houvesse uma bolsa que negocia o valor social e ambiental das instituições, não tenho dúvida de que o IPO dessas ONGs bateria recordes. É essa mensagem – cada vez mais consensual entre os próprios agentes do mercado em todo o mundo – que precisamos reforçar no Brasil.

O Encontro Nacional de Favelas, realizado nesta semana em São Paulo, será uma boa oportunidade para isso. O evento reúne cerca de 600 líderes sociais de todas as regiões do país. Por meio da arte, da poesia, da música e, principalmente, das histórias inspiradoras dessas pessoas, vamos (re)aprender como é possível, sim, construir novas maneiras de construir o enfrentamento às desigualdades.

Esses líderes são a prova de que o Brasil precisa valorizar mais a sua gente. Eles representam um país vibrante, criativo, generoso e não podem ficar esquecidos. Esses são, afinal, nossos grandes inventores. Enquanto alguns dos melhores cérebros do mundo recebem todo o suporte necessário para concretizar o sonho de colonizar Marte, nossos “rebeldes” e “encrenqueiros” precisam de ainda mais apoio para cumprir uma missão bem mais urgente: transformar a pobreza da favela em peça de museu

coluna edu

Comentários