Corinthias eleições Flamengo futebol

Vencedores e perdedores?

Na quarta-feira passada, Corinthians e Flamengo se enfrentaram na final da Copa do Brasil. Como sou corintiano roxo, queria muito que o Timão vencesse, especialmente porque conseguimos levar a disputa para os pênaltis em pleno Maracanã lotado.

Chegamos perto, muito perto, mas infelizmente (para mim) deu Flamengo. Apesar da decepção, aceitei e reconheci a vitória rubro-negra. Mais que isso, fiz uma postagem nas minhas redes sociais parabenizando o time carioca e mandei mensagens para meus amigos flamenguistas cumprimentando-os pela merecida conquista.

O Corinthians perdeu, e a favela paulistana amanheceu cabisbaixa. O Flamengo ganhou, e o morro no Rio de Janeiro amanheceu em festa. Tudo bem, porque amanhã o oposto pode acontecer. Derrotado, o torcedor do Corinthians precisa aguentar aquela brincadeira do vizinho, do colega de trabalho ou do amigo do bar, mas ele sabe que em algumas semanas terá a chance de fazer piada com os rivais. A Copa do Brasil acabou, mas o Campeonato Brasileiro está logo ali. É essa alternância que permite a todos nós, independentemente do resultado do último jogo, continuarmos gostando de futebol.

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A experiência de torcedor me ajuda a falar sobre o próximo dia 30, quando voltaremos às urnas para decidir o segundo turno das eleições. Um Brasil vai terminar o dia em êxtase, sorrindo de orelha a orelha. Outro Brasil vai terminar o dia triste e frustrado.

Isso nos coloca um tremendo desafio humano e emocional. Durante a campanha, fomos longe demais, cruzando linhas que jamais deveriam ser cruzadas no campo político. Linhas de respeito, civilidade, empatia, de reconhecimento do outro como adversário legítimo.

Rompemos essas barreiras e nos deixamos dominar, enquanto sociedade, pelo ódio e pelo rancor. Permitimos que amizades e laços familiares fossem desfeitos simplesmente porque o outro fez uma escolha diferente da minha.

O desafio, portanto, é refazer o tecido social. Será que isso ainda é possível? Será que podemos derrubar muros de ódio tão altos para construir pontes de diálogo – seja quem for o vencedor das eleições? Teimoso que sou, acredito que isso não só é possível como necessário.

Encerrada a apuração no domingo, será preciso colocar o país acima de nossas vontades. Temos 125 milhões de brasileiros com algum grau de insegurança alimentar, muitos passando fome de fato. O número de favelas saltou de 6 mil para mais de 13 mil em uma década. Nossa indústria mais bem-sucedida ultimamente é a indústria da desigualdade. Temos uma Amazônia pra defender, bioma do qual depende a sobrevivência da humanidade.

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Nenhum desses problemas terá solução enquanto colocarmos ideologias e preferências políticas acima dos interesses do país. Precisamos, em suma, reaprender a viver em sociedade.

Eu não faço ideia de quem irá vencer a eleição no próximo domingo, mas tenho uma certeza: para o lado perdedor, o resultado vai doer, e muito. Eu compreendo isso e me compadeço dessas pessoas, mas garanto que uma derrota ainda maior seria desistir do país, virar as costas para os milhões e milhões de compatriotas com quem não concordamos.

Se, no entanto, conseguirmos nos entender melhor, recuperando a civilidade e o senso de coletividade, a vitória será de todos – incluindo aquela parcela da sociedade que sairá derrotada das urnas.

*Coluna publicada pelo Jornal O Globo em 25 de outubro 2022.

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Edu Lyra Biografia

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